Psicoterapia é sobre abrir liberdade

11/14/20221 min read

Quanta coisa fica na conta da terapia, né? Ou melhor, me pergunto o que será que está por detrás desse imperativo: "façam terapia"?Se é doido, procure terapia, se está fora de si, procure terapia, se é fascista, internação psiquiátrica e terapia, se é mau-caráter, faça terapia, se está triste, faça terapia, se está vivo, faça terapia. E olha que eu sou um cara que partilho da concepção que é possível de psicologizar tudo ou quase tudo. Mas isso é muito característico dos tempos atuais, principalmente ao individualizar questões que são, na maioria das vezes, coletivas. Todo adoecimento é relacional, todo transtorno mental é relacional. E outra, até quando os estereótipos daquilo que não é aceito é consequentemente motivo para a terapia? O que vocês acham que é uma terapia? Higienismo afetivo?

Sendo simples, psicoterapia é sobre abrir as coisas, pré-coisas, preciosidades. Abrir palavras, abrir murmúrios. Abrir tristeza, abrir lamurio. Abrir verdade, abrir liberdade. Abrir tradição, abrir repetição. Abrir o que não se fecha, abrir o que sempre se abre. Abrir o que se guarda sem saber, abrir o que aparece sem querer. Abrir a solidão, abrir afetação. Abrir caminho, abrir fechamento. Abrir luto, abrir a luta. Fazer o diferente. Se a Gestalt-terapia condiz muito mais com uma cultura do verbo, talvez o abrir seja um bom exemplo. Principalmente, caso lembrarmos de a polaridade abrir-fechar gestalten. Ao fim, quando se fecha uma gestalt, milhares de outras se abrem.